segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Adeus

    Tudo que lembro é do choque e de minha respiração ritmada e caótica, buscando em cada sopro um instante a mais de consciência, agarrando-me a cada respiração como um cristão agarra-se a Deus em seus últimos momentos de vida. Devagar a dor e a incerteza foram sessando e meu ultimo resfolegar se deu de forma dramática e anêmica, quase um balbuciar enigmático no meio da escuridão, como que se me despedisse do mundo . Não lembro de nenhuma luz ou de anjos me buscando, lembro apenas de sentir meu corpo todo adormecer e de lentamente sentir minha consciência esvaindo-se a cada segundo. Lembro que em pouco tempo a dor tornou-se algo prazeroso e não sentia mais frio, medo ou angustia estava entrando em um estado alterado, quase em êxtase algo que jamais havia experimentado.
     Agora não mais sentia dormência ou medo, sentia como se minhas veias pegassem fogo e meu corpo todo estivesse flutuando em um mar de agua morna, talvez essa sensação seja por causa de meu sangue que escorre ao redor de mim, talvez seja meu corpo tentando se reestabelecer do choque ou quem sabe Deus realmente exista e esta seja a sensação de seus tocando minha pele. Não sei há quanto tempo estou aqui encarando o céu, porem ele nunca me pareceu tão azul. Gostaria de poder virar minha cabeça e ver os rostos que minha visão periférica não permite distinguir, consigo ouvir um barulho de choro abafado por uma sirene, algumas pessoas gritando, por que tantas pessoas me cercam?
     Gostaria de ver minha mãe novamente, como será que ela está? Lentamente sinto meus olhos pesando e incontrolavelmente vou fechando-os lentamente , vou pensando em o que será que minha mãe está fazendo e como sinto saudades dela, a ultima coisa que lembro passar em minha mente é que nunca mais poderei comer sua comida ou lhe dar um abraço forte depois de um longo período de ausência, será que um dia vou encontra-la novamente?